E a Amizade....

Amiga...

Sempre foste a pessoa mais ponderada que eu conheço. A tua calma, a tua maneira tranquila de ver e viver a vida é o que te torna tão especial e talvez por isso te seja tão facil ouvires os meus desbafos. Mesmo, quando os teus ouvidos estão cansados, ouves me... 

Não que fosse necessário, mas sabes o quanto me faz bem deitar cá para fora, tudo o que me vai na alma,  mesmo quando as letras não se colam a formar palavras em que consigo transpor os meus sentimentos para o papel...

Fingiste reflectir e,m tudo o que te disse, e disseste algo que ficou gravado dentro de mim como se fosse música para os meus ouvidos " Amiga o vazio que tu tens dentro do teu ser, que inunda o teu coração, não é responsabilidade de ninguém ,pois por isso, não podes por a pressão em alguém ".

É verdade, tal como sempre, estavas coberta daquilo a que costumo chamar, Razão..... Aquela que falta tantas e tantas vezes ... E quando não sei mais o que fazer a procuro junto de ti... 

Nesse dia,conversámos sem parar, rimos , chorei pelo que disseste e também porque a minha agonia, o meu desespero era tão grande , tão intenso e ao mesmo tempo tão absurdo... Mas, o teu ombro esteve sempre lá, nele me aconcheguei....

Na hora de me vir embora, ao dares me o beijo de despedida , não aquele de até nunca mais , mas sim aquele que se dá a uma amiga cheio de sentimento com o desejo de te rever em breve ... Lembraste te de que ainda tinhas a minha prenda de natal contigo... Eram duas na realidade, fizeste me abrir uma perante ti... uma recordação que vou guardar para todo o sempre - a ecografia da nossa menina , em que a pela primeira vez a viste ... como gostava de te ter acompanhado mais nesse processo em que te encontras - de gestação. 

A outra disseste me abres quando chegares a casa...

Percorri todo o caminho de volta,sem querer realmente voltar... Sabes a pior parte de te visitar , é a certeza de que vou ter de te deixar... 

A tua tranquilidade, a paz da tua companhia faz me sentir mais calma. 

Entrei em casa , olhei para o relógio , e este marcava meia-noite , o dia tinha acabado, mas nem por isso a minha agonia tinha cessado....

Agarrei me á única coisa que ainda me poderia dar um pouco de alegria : o teu presente e abri o ... Era um livro ... Tu sabes o prazer que tenho pelas palavras, o significado que elas tem na minha vida...

Por coincidencia ou não, depois de tudo o que conversámos horas a fio, o livro tinha sido embrulhado ao contrário... e o que li em 1ª mão dele foi a parte detrás onde estava escrito " Somos sempre mais para as pessoas do que imaginamos " 

Eu sei de coração que acreditas nisso , mas a minha insegurança não me permite que tal seja possível... Por isso tanats vezes ou a maior parte delas estrago tudo...

Acho na minha ingenuidade que as pessoas tem que agir em conformidade com o que penso... Eu sei que não acontece, mas cismo em acreditar nisto. E sofro sempre com isto... Defeito ou feitio que herdei de uma infancia pouco feliz... Ninguém tem culpa do vazio se ter alojado em mim... 

Vazio este que me consome e que vezes sem conta me faz depositar nos outros a responsabilidade de o preencherem... 

E com isso, afasto as pessoas, assusto as, pressiono as a fazerem o que não podem , o que não conseguem... AJUDAR ME ....

Curiosamente o livro conta duas histórias  , que se ligam entre si, pela magia que por tanto sofremos : O Amor ...

Uma fábula perfeita de como tudo pode ser simples, se o quisermos tornar dessa maneira.

Lembras te da primeira notícia que te dei , quando nos sentámos naquela esplanad do café ? Que talvez houvesse a possibilidade de ir para fora, redescobrir me, longe daquilo que pensei que era a minha vida perfeita , na qual eu não vi a perfeição....

Nos pacotes de açucar , coisa a que sempre deste a importancia que devem ter, vinham escritas as seguinte palavras " SONHO " e " ESPERANÇA"  disseste me sairam te as palavras certas... E depois disseste também " querida sou uma mulher grávida, tens que ter cuidado a dar me estas notícias. "  Lembro me como se fosse hoje e até porque não passou assim tanto tempo. Com um olhar triste e com uma voz a soar  a ironia e ao mesmo tempo a tentar perceber se eu estava realmente a falar a sério  " Não me digas que atravessas te o rio , para me dizeres que vais cruzar o oceano ? " Foi a primeira vez, que os teus olhos disseram aquilo que não querias e também a primeira vez , que em toda a nossa Amizade , tu não disseste " estarei sempre aqui na mesma para te apoiar " ....

Ironia do destino ou não , naquela noite, comecei a ler o livro que me deste, como se nele fosse encontrar todas as palavras , toda a teoria, a sabedoria para preencher o meu vazio e seguir em frente....

 A meio do livro , e porque a hora já ia bastante avançada, fechei o livro e decidi deitar me ... Olhei o relógio inúmeras vezes, penseio em tudo o que me tinhas dito , pus as músicas que mais gosto , para confundir toda aquela esperteza em que me encontrava, contando que o sono iria aparecer... Mas dele, nem sombras...

Levantei me angustiada , madrugada dentro , a pensar porque raio não conseguiria simolesmente descansar....

Foi então , que decidi , retomar a leitura , absorta de pensamentos, recomecei.... Li aquela história vivendo a como se fosse a minha, sentindo cada palavra ao ponto de chorar com todo o sofrimento que a mesma continha...